Papa Francisco critica neoliberalismo e “vírus do individualismo” em nova encíclica

A terceira encíclica escrita pelo Papa Francisco foi divulgada neste domingo (04) pelo Vaticano. O documento intitulado Fratelli tutti ("Todos irmãos" em italiano), é fruto de reflexões do pontífice em meio à pandemia da covid-19 e apresenta duras criticas às políticas neoliberais e ao individualismo.

11 out 2020, 09:47 Tempo de leitura: 2 minutos, 49 segundos
Papa Francisco critica neoliberalismo e “vírus do individualismo” em nova encíclica

Documento escrito por pontífice é fruto de reflexões em meio à pandemia do novo coronavírus

Papa Francisco abordou temas sociais e condenou o “dogma neoliberal” – Foto: Filippo Monteforte/AFP

A terceira encíclica escrita pelo Papa Francisco foi divulgada neste domingo (04) pelo Vaticano. O documento intitulado Fratelli tutti (“Todos irmãos” em italiano), é fruto de reflexões do pontífice em meio à pandemia da covid-19 e apresenta duras criticas às políticas neoliberais e ao individualismo.

Com elevado tom político, Papa Francisco abordou temas sociais e condenou o “dogma neoliberal”. “A especulação financeira com o lucro fácil como objetivo fundamental continua provocando estragos”, escreveu, acrescentando que “o vírus do individualismo radical é o vírus mais difícil de derrotar”. 

Conforme escreveu o pontífice, “a fragilidade dos sistemas mundiais perante a pandemia evidenciou que nem tudo se resolve com a liberdade de mercado e que, além de reabilitar uma política saudável que não esteja sujeita aos ditames das finanças, devemos voltar a pôr a dignidade humana no centro e sobre este pilar devem ser construídas as estruturas sociais alternativas de que precisamos”.

:: Leia a encíclica na íntegra em português ::

Papa Francisco criticou ainda a atuação internacional no combate à covid-19, que expôs, de acordo com ele, as “falsas seguranças” do mundo globalizado. “Por cima das várias respostas que deram os diferentes países, ficou evidente a incapacidade de agir em conjunto. Apesar de estarmos superconectados, verificou-se uma fragmentação que tornou mais difícil resolver os problemas que nos afetam. Se alguém pensa que se tratava apenas de fazer funcionar melhor o que já fazíamos, ou que a única lição a tirar é que devemos melhorar os sistemas e regras já existentes, está a negar a realidade”.

A encíclica é dividida em oito capítulos nos quais o papa defende a fraternidade universal e o direito de todo ser humano de viver “com dignidade e desenvolver-se plenamente”.

“É possível aceitar o desafio de sonhar e pensar em outra humanidade. É possível desejar um planeta que assegure terra, teto e trabalho para todos”, defendeu.

A convivência pacífica entre os povos e a promoção do que o pontífice conceitua como amizade social junto à população vulnerável, ou ações que não se limitem a palavras, conforme frisa, também foram temas abordados.

Ao incentivar a chamada cultura do encontro, o papa chegou a citar o Samba da Bênção, de Vinícius de Morais. “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro na vida”, registrou.

O documento, que foi divulgado no dia de São Francisco de Assis, inspiração para o nome de Jorge Bergoglio como pontífice, também defendeu o direito às migrações, cobrou mudanças na Organização das Nações Unidas (ONU) e na ordem do sistema financeiro mundial como um todo. 

Outras duas encíclicas foram assinadas anteriormente: a Lumen Fidei (“Luz da Fé”) e Laudato Si (“Louvado Sejas”), a primeira na história da Igreja Católica dedicada exclusivamente ao meio ambiente.

Edição: Rodrigo Durão Coelho

Matéria publicada originalmente no site Brasil de Fato e replicada neste canal.